A CAMISINHA E MARIANA

Fernando Reinach

“(…) construir barragens para conter resíduos letais próximos da cabeceira de um grande rio é o equivalente a fazer sexo sem camisinha. Ou você tem certeza de que a probabilidade de rompimento é zero, e aí o valor que atribuímos ao rio, sua biodiversidade e seus serviços ambientais é irrelevante, pois eles jamais estarão em risco, ou você sabe que o risco, apesar de baixo, não é zero e sua decisão de permitir ou não a construção desse tipo de barragem vai depender do valor que você atribui à vida desse rio.
No passado, o valor atribuído pela sociedade a um rio era baixo e os benefícios econômicos desse tipo de projeto facilmente justificavam o risco. Mas, à medida que o tempo passa e vamos destruindo nossa querida Terra, o valor que atribuímos aos rios e ao meio ambiente tem aumentado. Por isso, riscos que eram aceitáveis agora são impensáveis. Em outras palavras, provavelmente todas as barragens desse tipo terão de ser desativadas. E essa não é uma decisão muito diferente da que foi tomada pela Alemanha, que com base no que aconteceu em Fukushima, no Japão, resolveu desativar seus reatores nucleares, mesmo sem ter sofrido um único acidente. Eles concluíram que o risco não era zero e as consequências beiravam o infinito.
Pelo mesmo motivo que decidimos pelo uso da camisinha, a Alemanha decidiu desativar seus reatores nucleares e nossas mineradoras terão de desmontar as armadilhas que estão na cabeceira dos rios. O risco desses projetos é baixo, mas o valor do que é ameaçado beira o infinito.”

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