A CARTA VAZADA

Eugênio Bucci

“Ao comentar um conto de Edgar Alan Poe, A CARTA ROUBADA, o psicanalista francês Jacques Lacan escreveu uma de suas diatribes (crítica severa e mordaz) mais intrigantes. Sugeriu que, mesmo quando desviada criminosamente do percurso que deveria seguir, ‘uma carta sempre encontra o seu destinatário’.

Ao que você vai perguntar: quer dizer que se um ladrão afanar um envelope destinado a outra pessoa e ler seu conteúdo a carta terá chegado ao destinatário? Na opinião de Lacan, sim.

A ideia é mais ou menos a seguinte: o destinatário da carta não é aquele cujo nome aparece no envelope, mas aquele que puder lê-la. ‘Certo’ ou ‘errado’, tanto faz, o leitor assume o lugar do destinatário. segundo esse peculiaríssimo entendimento da rede postal, uma carta é um sujeito autônomo. Ao atingir o seu leitor (o seu destinatário), põe em marcha a trama dos acontecimentos, seja essa trama uma peça de ficção (como na obra de Poe) ou um ato psicanalítico (como na interpretação de Lacan). Em resumo, uma carta, roubada ou não,move a história.”

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