REMBRANDT

COMPUTADOR CRIA UM REMBRANDT PERFEITO
Obra-prima artificial pode até iludir alguns observadores, mas não guarda a alma do mestre e leva a refletir sobre autenticidade e originalidade
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As manchetes acima foram retiradas de matéria publicada no jornal O Estado de S. Paulo do dia 21 de junho.

Interessante, fiquei pensando. Por que uma obra “perfeita”, produzida por um computador, não pode ser apreciada como aquelas que um ser humano labora? Será que admiramos a obra de arte em si, ou associamos o resultado do trabalho ao esforço despendido pelo autor; aos limites ultrapassados por ele antes de julgarmos a peça final?

Creio que é isso mesmo. Na verdade, não apreciamos isoladamente o resultado do artista: uma tela, uma música, um livro, um filme, etc, mas, junto, avaliamos também o caminho percorrido pelo autor para chegar até esse mesmo resultado. Parece-me que sempre ligamos a obra à pessoa: como ela é, qual a trajetória que percorreu, as dificuldades pelas quais passou, que preferências políticas advoga, e se estas são validadas por nós; enfim, uma obra é ela mais as circunstâncias em que foi gestada.

Parodiando o filósofo José Ortega y Gasset, uma obra de arte é “Ela e as suas circunstâncias”.

E como a máquina, em tese, não possui circunstância, acaba valendo menos para a mente humana. Daí “não guardar a alma do mestre”.

Esta forma de pensar leva o ser humano também a ter dificuldade em separar o artista da pessoa do artista. Por exemplo, alguns deles que assumem determinada opção política contrária à nossa passam a receber menos atenção, chegando, até mesmo, a ser hostilizados, como vimos recentemente.


Sobre isto, lembrei-me de uma passagem em que um indivíduo, conhecido meu, ao rebater uma avaliação negativa sobre o caráter de um determinado jogador de futebol (nessa época ele estava sendo contratado pelo Grêmio), respondeu:

– Eu não quero o … para casar com a minha filha; eu o quero para jogar no meu time.

Esta é a linha divisória: uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa, diria o ex-ministro, Almir Pazzianotto.

Carece de ter coragem, carece de ter muita coragem para desvincular um ser de outro, diria Riobaldo, em Grandes Sertões: veredas, de Guimarães Rosa.●

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